quarta-feira, 18 de julho de 2012

JÁ FUI MARIA, AGORA SOU MADALENA




 


Ainda as lágrimas desembestam ante o destino dos rebentos. Ainda os pés calejados, sobe morro, desce morro. Ainda um césar subtrai minha solidez. Ainda uma roma me queima a pele com sua cobiça. Ainda um jesus petulante, também um mateus, um tiago, um joão. Ainda a estranha resignação de manter-me viva, e ardendo.

meus joelhos já se curvaram em vãs orações
hoje me curvo à libido de quantos josés umedecem meus insanto cálice

no ventre pálido, não apenas os frutos das entranhas
também as marcas das noites bem acordadas
ecos dos gritos abafados

as ancas não mais apenas carregam os melequentos meninos
também dançam conforme as notas da volúpia
acavalam-se em tantas coxas quantas forem os fios do desejo

noites a fio, velei os pesadelos de quem cuspia minha esteira ao raiar do dia
agora, põe-se o sol
um gole vem à boca
uma meia-arrastão
lábios carmim
agonizo os desejos mais vadios

As mãos que atemorizada beijava
levo a peregrinar as sagazes curvas da paixão
uma boca
dois mamilos
dois lábios
duas línguas
dois orifícios

Antes, somente ele
hoje, encontro de fluidos
tremores
arquejos

Já fui Maria, agora sou Madalena

Agora, a reincidente ferocidade de ser minha, e ser tantas.


(Gisele Morais)

terça-feira, 17 de julho de 2012

DO POÇO ESCURO DE NÓS DOIS



Dói e escurece as olheiras
Encucada que amor e ter andam juntos, tão antônimos são
Querendo-te meu. Sendo – eu - somente minha
Vazam-me as exigências
sobra o punho fechado e os olhos  úmidos
o olhar absorto e as pernas fechadas.

Clamando que (alg)um ame bem mais e melhor que você
Bem sabendo: hálito nenhum aquece tanto estes ouvidos
e falo nenhum tão bem alimenta estas papilas.

Fera acuada
Vendo-te outras cinturas rodar,
outros líquidos verter
n’outros pelos respirar.

Na esperança, apenas, que de pernas bambas volte
coma ainda o doce predileto
os mesmos arranhões receba
mame o mesmo leite cortado
no mesmo prato sujo, cuspa.

(Gisele Morais)